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Antigamente
quando se queria acusar alguém de ser mau motorista dizia-se que tirou
habilitação por correspondência. Hoje, fazer um treinamento por meio de
simuladores é item de qualidade nas autoescolas. De comum entre os correios e simuladores
há o fato de serem meios utilizados na chamada “Educação a distância” (EaD). A EaD evoluiu muito desde os primeiros cursos,
mas ainda sofre preconceitos que remontam ao tempo em que era sinônimo de curso
por correspondência. Em palestras costumo perguntar aos que me assistem quem
voaria em avião conduzido por piloto formado a distância. Poucos levantam as
mãos. Ato contínuo informo que pilotos de avião de grande porte são treinados
em ambientes virtuais (simuladores de voo), bem distantes (ainda bem) dos
aviões de verdade e podendo até dispensar a presença física de instrutores. Em seguida disparo: E quem se submeteria a uma
cirurgia realizada por um médico que treinou tal procedimento a distância?
Quebro o silêncio emendando: bem, as próprias cirurgias, quando utilizam
videolaparoscopia, já são realizadas a distância (o cirurgião visualiza órgãos
internos por meio de tela de vídeo e manipula instrumentos cirúrgicos a
distância). Um bom simulador de realidade virtual possibilita que alunos de
medicina realizem cirurgias com alto grau de realismo, impossível de ser obtido
com cadáveres, animais ou bonecos. Alguns órgãos de classe afirmam que em suas
áreas seria impossível formar profissionais a distância. Puro preconceito. Com
simuladores, meios de comunicação e metodologia adequados, qualquer habilidade
pode ser desenvolvida e qualquer conhecimento pode ser construído, com a mesma
qualidade propiciada por métodos tradicionais.
Hoje praticamente
não existe distância intransponível. A sociedade, principalmente a população
mais jovem, já aceita com naturalidade telepresença e interação virtual.
Realidade virtual e realidade aumentada já fazem parte do cotidiano (a recente
febre do jogo de realidade aumentada Pokémon
Go, que permite interagir com personagens virtuais em meio a ambientes
reais, é mais um exemplo da penetração crescente do virtual em nossas vidas). A
necessidade óbvia de se eliminar a barreira da distância, à luz de uma
sociedade em crescente informatização, fez com que tecnologias de comunicação,
jogos e simuladores sofisticados fossem rapidamente incorporados ao arsenal da
EaD. Mas não basta tecnologia. Para que o engajamento do aluno e a aprendizagem
de fato ocorram, há necessidade de metodologias adequadas, baseadas em
interatividade e numa aprendizagem ativa. Os bons cursos a distância adotam
muita tecnologia, mas também metodologias, técnicas pedagógicas e design
educacional bastante avançados, diferentemente de algumas abordagens arcaicas baseadas
em aula presencial expositiva. Tais inovações podem e devem beneficiar também
tradicionais cursos presenciais, cujos alunos podem sentir mais distanciamentos
e barreiras psicológicas que estudantes de cursos online. Mas o melhor mesmo, e há mais de quinze anos venho defendendo
isso, é a mistura de ambos os modelos, no que hoje se chama de blended
learning (aprendizagem híbrida). Nesse modelo flexível é possível um
balanceamento entre atividades presenciais e virtuais, separada ou
simultaneamente, possibilitando inclusive uma proporção diferenciada e
personalizada para cada aluno. Afinal, o
que se deve buscar na educação é quebrar barreiras, eliminar distâncias, independentemente
das localizações físicas de alunos e professores. Essa, que eu chamo de
“Educação SEM distância, deve ser a educação do futuro. As tecnologias e
metodologias que a viabilizam já existem.
Destaco a
seguir algumas das principais tendências para a “educação sem distância” do
futuro, além da já mencionada hibridização. A primeira é a gamificação, que não deve ser confundida com diversão. Trata-se de utilizar conceitos e técnicas do
design de jogos, como desafios, metas, narrativas, recompensas, empatia e
outras formas de engajamento em atividades pedagógicas. Outra ferramenta
importante a ser incorporada ao EaD é o learning
analytics, que, por meio de técnicas de inteligência artificial e mineração
de dados, ajudará o professor a personalizar a aprendizagem de seus alunos,
mais ou menos como lojas virtuais ou o Netflix fazem para oferecer atenção
diferenciada a cada cliente. Por fim destaco as já mencionadas realidades
virtual e aumentada. Óculos especiais ou um simples celular possibilitarão
transportar alunos e professores para outras realidades, microscópicas ou
macroscópicas, passadas ou futuras, simuladas ou imaginadas. Nesses mundos
virtuais ou híbridos todos poderão se encontrar. Será difícil dizer se essas
aulas serão presenciais ou virtuais. Mas certamente serão sem distância.
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(*) Artigo de opinião publicado na Edição Especial de Educação a Distância do jornal Folha de São Paulo em 29 de julho de 2016.
Romero Tori é professor associado 3 da Escola Politécnica da
USP; professor titular do Centro Universitário Senac; pesquisador de
tecnologias interativas, tais como realidade virtual, realidade aumentada e jogos, e
de suas aplicações em educação; bolsista de produtividade do CNPq; e autor,
entre outros trabalhos, do livro “Educação sem Distância”. Publica este blog ( “Educação sem Distância” ), que pode ser acessado pelo link http://romerotori.org.
Livro “Educação sem Distância”
Nesta obra,
que pode ser baixada gratuitamente aqui, Romero Tori discute as
diversas formas de distância em atividades de aprendizagem e maneiras de
reduzí-las por meio de tecnologias interativas.
Entre outras tecnologias são apresentadas a realidade virtual, realidade
aumentada e jogos. São também abordados o blended
learning, a interatividade, presença e telepresença. Por fim Tori propõe
uma métrica que possibilita avaliar, numa escala de 0 a 100, o potencial de
proximidade de cada atividade de aprendizagem, levando em consideração três
tipos de distância (espacial, temporal e transacional) e três relações de
distanciamento (aluno-professor, aluno-aluno e aluno-conteúdo).
dicas muito boas, vou aplicar no período integral SP, recomendo a quem quer aprender coisas novas, bem bacana mesmo!
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