Educação Sem Distância: da Teoria à Prática

16o CIAED – ABED - 2010 - Foz do Iguaçú.

Mesa Redonda "Educação Sem Distância: da Teoria à Prática"
realizada em 2 de setembro de 2010. 


Veja mais fotos desse encontro na página da
"Educação sem Distância" no Facebook.


Veja também o blog da mesa sobre "Design Instrucional"
ocorrida no dia 1 de setembro de 2010
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Este post relata, e dá prosseguimento, à mesa redonda que organizamos no  16o. CIAED (Congresso Internacional ABED de Educação a Distância), realizada no dia 2 de setembro de 2010 às 18h, sob o título "Educação Sem Distância: da Teoria à Prática".   Compuseram a mesa a pesquisadora da Escola do Futuro da USP Mariana Tavernari e as professoras, pesquisadoras, autoras, diretoras da ABED e empreendedoras da educação a distância Vani Kenski e Lina RomiszowiskiEu tive a prazerosa e desafiadora missão de coordenar essa vibrante mesa, que combinava experiências em pesquisa, docência e atuação empresarial com a energia criativa da nova geração de pesquisadores e desenvolvedores da educação na era da Web 2.0.













Abri a sessão lembrando que no ano anterior tivemos pela primeira vez uma mesa denominada "Educação sem Distância" e esta continua a "tradição" criada por aquela(risos). Comecei explicando o formato que nós quatro havíamos combinado para a dinâmica da mesa. Teríamos apenas 60 minutos (mesa redonda de 1 hora de duração não é razoável; até apelei pessoalmente ao Prof Litto para que isso seja revisto para os próximos eventos). Se cada um dos debatedores falasse 20 minutos (o que ainda seria pouco) já esgotaríamos o tempo disponível, sem denbates, sem questões da platéia. Pensamos então em dar mais voz aos presentes e estender os debates para a nuvem da internet, na forma de um blog (este) e outros recursos que os próprios participantes venham a utilizar e conectar a este post.  Decidmos, assim, estipular para cada uma das debatedoras o tempo limite de 5 minutos, rigorosamente controlados por meio de uma sofisticada tecnologia de cronometragem ;-), para uma exposição inicial, seguidas de perguntas cruzadas (com o tempo máximo de 2 minutos para resposta). 

Finalizada essa primeira etapa passaríamos a palavra ao público presente, com o tempo  máximo de 1 minuto para cada pergunta ou colocação (a nossa experiência em coordenar sessões na ABED, cujo público é  formado essencialmente por professores, que adoram falar, não nos deixava dúvida quanto à necessidade dessa limitação, ainda que as colocações dos presentes costumam ser muito interessantes e enriquecedoras; em compensação temos esse espaço virtual aberto e sem limites para as contribuições, não apenas dos presentes à sessão como também dos demais leitores deste blog). 
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Abusando de minha posição de moderador iniciei com três perguntas destinadas a cada uma das debatedoras, não previamente combinadas, para cujas respostas estipulei o tempo de 1 minuto:


Pergunta 1: O Design Instrucional define as tecnologias ou estas são a matéria prima, a partir da qual o designer molda os cursos ?

VaniO designer instrucional não define, mas seleciona as tecnologias mais adequadas a cada situação de aprendizagem prevista a partir dos objetivos de cada curso. Para isso, ele precisa conhecer as tecnologias disponíveis  no contexto em que irá ser desenvolvido cada curso, os limites e potenciais de cada uma delas, e as condições de acesso e uso desses meios pelos professores, alunos, tutores...


Nota do Blog: posteriormente a Profa Vani me passou um link para um artigo na revista webcurriculo da PUCSP  que aborda este processo. Ao final do artigo ela apresenta um checklist para verificação da adequação das midias (plano de mídias) aos cursos.  Confira em
http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=76610106  ou em
http://www4.pucsp.br/ecurriculum/artigos_v_1_n_1_dez_2005/vanikenskiartigo.pdf 

Pergunta 2: Como as redes sociais, blogs, a Web 2.0 em geral podem impactar, ou já estão impactando, a educação ?

Mariana: Sua pergunta me fez pensar em duas coisas. Primeiro, em termos práticos, em um projeto lá da Escola do Futuro da USP, numa escola em que trabalhávamos uma grande dificuldade que professores e alunos tinham para usar a Web 2.0 era o bloqueio que a instituição fazia  ao acesso a Orkut, MSN e outras redes sociais. O nosso trabalho foi mostrar que as redes sociais podem de fato contribuir com o aprendizado e favorecer processos emergentes, sem prejudicar as demais estruturas curriculares. Já em termos teóricos, a aplicação da "etnografia virtual" ajuda a comprovar a importância atual do uso das redes sociais na educação.


Estimulando a emergência de processos colaborativos, as redes sociais potencializam a interação entre alunos entre si e também com professores, favorecendo a aprendizagem autônoma dos alunos. Citando como exemplos os projetos de intervenção implementados pela Escola do Futuro, como AcessaSP e Tonomundo, bem como pesquisas teóricas desenvolvidas pelo Observatório da Cultura Digital, Mariana Tavernari refletiu a respeito da interlocução entre a teoria e a prática nas redes sociais. 



Pergunta 3: Por que as corporações costumam ser mais ágeis no uso de tecnologias em treinamento e na demonstração de resultados do que as universidades em adotá-las na educação formal?

Lina: Realmente as corporações tendem a fazer, não necessariamente melhor, mas em prazos mais curtos. Há quem diga que a pressão por resultados possa gerra má qualidade, mas isso nào é verdade. Quem transita pelos meiso acadêmcio e empresarial sabe que temos bons resultados tanto em um quanto em outro. As realidades são muito diferentes e não existem regras válidas para ambos. Agora, falando um pouco sobre o mundo acadêmcio brasileiro eu acho que enfrentamso muitos problemas e a lentidão está um pocuo exagerada. Talvez isso se deva ao fato de termos muitos projetos fortemente ligados a pessoas. Em muitos casos, quando as pessoas saem os projetos acabam. No corporativo há pressão por resultados. Isso, no entanto, não tem necdessariamente a ver com questões de qualidade.
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Em seguida cada uma das debatedoras fez uma breve exposição de 5 minutos. 


A pesquisadora da Escola do Futuro da USP, Mariana Tavernari, deu início às apresentações, continuando no tema barreiras e dificuldades para a implantação e uso de novas tecnologias nas escolas, relatando um pouco de sua experiência no projeto da Escola do Futuro "OBSERVATÓRIO DA CULTURA DIGITAL", sobre a qual já havia apresentado trabalho em sessão técnica no dia anterior. A partir dessa reflexão fio colocada a seguinte perguntas, com seus desdobramentos: Como se dão os processos de resistência, por parte de alunos e professores, diante da introdução das tecnologias na prática cotidiana educativa? Existem diferenças geográficas e de faixas etárias com relação a esses processos de resistência?


Lina: Hoje, graças à internet, que permite novos tipos de proposta e desenvolvimento, já há uma resistência bem menor. Mas ainda assim há resistências porque as pessoas não gostam do que não sabem. Muitas vezes não têm curiosidade e simplesmente rejeitam por rejeitar ou porque ouviram falar que esse processo vai substituir o professor e se sentem inseguros. Eu acho que em todos os projetos de EAD seria importante se fazer um trabalho mais, digamos assim, cultural. No momento em que os professores vêem que podem ter uma nova postura e que aquilo vai inclusive dinamizar o pr'prio trabalho, a resistência diminui. Agora, a situação muda muito de instituição para instituição. O que se deve evitar é a execução de decisões "de cima para baixo", as quais certamente geram resistências.


Vani: Eu tive oportunidade de discutir esse assunto com professores da Suécia e da Noruega e eles apontaram os mesmos problemas.  Então nós podemos pelo menos nos consolar já que eles passam exatamente pelos mesmos problemas, mesmos tipos de rejeição, problemas com os professores. A mudança não é apenas numa base educacional ou numa base tecnológica. Trata-se de uma mudança CULTURAL!  E mudança de cultura não se faz do dia para a noite.  Mudança de cultura se faz com os atores de base política. São relações de poder, que envolvem tecnologia e as pessoas ficam mais preocupadas com essa questão de abrir. Eu já participei de uma mesa na qual havia um advogado para dizer para mim que nào era possível abrir as redes por causa da pedofilia, por causa da pornografia e tudo mais. A recomendação era para que as escoals não abrissem as redes proque as crianças seriam "sugadas".  Portnato nós temso problemas sérios vindos da cultura da sociedade para os quais nós não temos como responder. O consolo é saber que esse é um problema sem resposta no mundo inteiro.

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A Profa. Lina Romiszowiski discutiu o significado e a aplicação das novas tecnologias interativas na reduçào de distâncias na educação.  Hoje nós temos diversas modalidades de educação, totalmente a distância, presencial, mista, híbrida ou como queiram chamar. Mas na realidade, uma educação bem feita certamente será "sem distância".  Infelizmente há muita educação presencial com muita "disância". Há váriso desafios a vencer, em termos institucionais, culturais, tecnológicos... No caso da EAD há necessidade de um esforço maior, pois além de tudo há a distância física a ser vencida.  


Reduzindo a distância com a platéia a Profa Lina incentivou a interação durante sua apresentação. Uma das participações foi da Profa Paula Carolei, a qual destacou dois elementos importantes para a redução de distância na educação: imersão, que reduz a sensação de distanciamento uma vez que a pessoa se sente dentro, se sente parte do processo,  e o jogo, que faz a pessoa se sentir participante. 


Retomando sua fala a Profa Lina fez referência ao slide projetado, no qual aparecem as frases "No passado tecnologias de mão única/dupla"  e "Hoje: tecnologias interativas na redução de distância no ensino e aprendizagem", (fazendo referência ao subtítulo de meu livro, o qual aparece no slide como sendo de 2009 mas que na verdade foi publicado em 2010).  Quem como eu, prossegue Lina, já trabalhou com outras  formas tradicionais de EAD, que não a internet, sabe das dificuldades em termos de comunicação.  Hoje é fácil perceber que a AED deu um salto em termos de possibilidades. Nesse momento a debatedora incentiva a participação da platéia:  "O fato de termos essas tecnologias hoje disponíveis resolveu o problema ?"


Denise Bernini (gerente de EAD do Centro Universitário São Camilo do ES):  Eu costumo dizer que o computador veio para resolver problemas que antes não existiam.  Aí a gente liberou, como a Mariana colocou, as redes sociais na institição. A minha briga foi para liberação do youtube, que era bloqueado. Vendo hoje em dia as dificuldades que os professores têm com tanta ferramenta para diminuir a distância, eles mal conseguem se organizar. Será então que essas ferramentas destinadas à redução de distâncias não acabam aumentando o abismo entre professores e alunos? 


Lina: Ótima questão. Como se faz com o excesso de ferramentas e informações? A tendência é achar que com tecnologais mais avançadas resolvem-se os problemas, quando na verdade novos surgem. O fator humano é algo muito importante no contexto educacional. Ontem mesmo, na mesa sobre "design Instrucional",  da qual participamos eu, a Vani, a Paula Carolei e o Regis Tractenberg , discutíamos exatamente isso. E a conclusão é que não existe mágica. Qualquer que seja a tecnologia deve sempre haver um trabalho de planejamento, um projeto institucional, estratégico, político-pedagógico e uma série de outras coisas que vão viabilizar sua implantação e sucesso.  Nesse momento a ampulheta apontava que o tempo já havia estourado. 
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A Profa Vani Kenski assume a palavra informando que seu foco seria na "aprendizagem", uma vez que "educação" é um conceito muito amplo. O que se espera, qualquer que seja o indicador de avaliação,  indicadores é que o aluno efetivamente aprenda.  O que seria uma "aprendizagem sem distância"?  O que faria com que o aluno efetivamente aprenda e possa discutir o que está aprendendo sem se sentir isolado e perdido? Isso não tem nada a ver com a mediação tecnológica nem com a distância física, e deve ser preocupação em salas de aula também, já que ainda se vê aulas nas quais os alunos entram mudos e saem calados, com o professor totalmente distante.  Então eu retomo o que a Paula (Carolei)  colocou há pouco. O que seria o sentido da "aprendizagem a distância"? Seria o sentido de imersão. São vários os autores que podem nos auxiliar nesse processo. Eles vão dizer para você que, para se ter uma aprendizagem de transformação esta não pode se dar apenas no plano racional. Ela tem que se dar por inteiro. É uma mudança de comportamento, devendo envolver não apenas a razão mas principalmente o sentimento, a emoção, com a sensação do processo que está acontecendo, com a intuição. Isso se articula muito com os 4 pilares trabalhados pela equipe coordenada por Jacques Delors,  que coloca que é preciso ao mesmo tempo conhecer,  conviver, fazer e ser. E no nosso trabalho, na nossa prática, sentimos falta de um outro pilar: CRIAR. Isso entra junto com a intuição. Ë preciso ir além do fazer, simplesmente repetindo aquilo que todo mundo já fez. A sensação dessa construção, dessa criação, traz para mim a sensação do Flow, pela felicidade de se estar superando a si mesmo. Por que se a gente pensar no mecanismo de construção do flow vai se lembrar de algumas  realidades de prática como aquele aluno que diz "não, não aguento mais, outro joguinho na escola eu não aguento...".  O que precisamos é levar o aluno, dentro de um processo, a dizer:  "Oba! Legal! Agora vai!". E aí precisa do que ? Dosagem. Não é trazer prazer o tempo todo. Na vida real nós não vivemos em permanete estado de felicidade.  Ninguém é Poliana para viver o tempo inteiro todo contente. 


O ponto departida para tudo isso é que nós temos, como educadores, em primeiro lugar e em qualquer projeto pensar no aluno. Onde ele está, o que ele realmente precisa, onde ele pode crescer. Se a gente pensar no aluno a gente vai conseguir mudar, vai conseguir fazer. E pensando nessas condições nós vamos dar a ele um projeto de qualidade. 


A Profa Vani finaliza colocando três questões para debate. Seguem as questões e algumas das respectivas manifestações.


Pergunta 4: Imersão como condição para boa aprendizagem sem distância?
LinaEssa condição é própria do ser humano. Quando você não se envolve, não entra no âmago da coisa, fica muito difícil aceitra aquilo de uma forma boa. Então, em termos de aprendizagem,  acontece a mesma coisa. Por mais que a gente facilite o aluno só vai aprender a partir daquilo que ele mesmo constroi. E a imersão tem parte preponderante nesse processo.


Pergunta 5:  Flow como objetivo educacional?


Romero: Eu não vejo flow como um objetivo, mas como um meio. Meio de se levar o aluno a um estado de máximo desempenho e envolvimento. O sonho de todos nós, professores, é ver nossos alunos tão envolvidos com as atividades de aprendizagem quanto os vemos engajados em atividades lúdicas. Daí a idéia recorrente de que basta se colocar jogos na educação para resolver todos os problemas. Como a Vani já comentou os alunos não aguentam mais "joguinhos". Há situações em que um jogo, que pode ser um título comercial mesmo, se encaixa perfeitamente no projeto pedagógico. Mas precisamos ter em mente que  jogo não é a única forma de se levar a pessoa ao estado de flow.  Aprender é muito prazeroso. A criança é uma máquina de aprender. Infelizmente ao longo de seu crescimento ela vai aprendendo a não gostar de aprender. Precisamso resgatar esse prazer pelo conhecimento e colocar nossos alunos em flow pela aprendizagem.


Leonel Tractenberg: (FGV, UFRJ, Livre Docência Tecnol. Educacional):  Tudo isso que foi falado é muito importante. Eu apenas queria pontuar, e aí falando mais como psicólogo, que é importante também a gente não "glamurizar" o flow, a felicidade e tal. Na linha um pouco do que a Vani mesmo colocou, a aprendizagem, dependendo dos conteúdos, dependendo das situações - do contexto - ela também é inquietante, ela também tem incômodo, ela também tem conflito.   E essa dimensão, que é tão importante na sala de aula e que desafia tanto o professor a saber lidar com conflito, com a inquietação, com a discordância etc., ela  também deve existir no online. Não deve haver, como eu vejo acontecendo muito em diversos programas de educação online, uma super valorização do lúdico, traduzindo-se às vezes naquelas animaçõezinhas bobocas e nuam série de outras coisas.


Romero: Gostaria também de ressaltar que a teoria do Flow e da psicologia positiva mostra que não existe possibilidade de se ter permanente estado de felicidade. O contraste entre  situações adversas e positivas, a dificuldade que leva ao prazer de se vencer desafios, de se estar dando alguma contribuição etc.. são componentes importantes que explicam como é possível, por exemplo, se entrar em flow até mesmo em situações de calamidade pública.


Paula Carolei:  Eu estava aqui pensando em relação a "distância" e "flow". É uma coisa assim: precisamos da diferença de potencial para gerar um movimento. A gente precisa de uma distância para poder encurtar a distância. Essa questão, muito bem colocada (pelo Leonel) é o "incômodo", para a gente desafiar . Hoje existem vários tipos de jogos que possibilitam a você experimentar e há outros que não oferecem essa "diferença de potencial", que não provocam.


Anna Aline P S Souza (Universidade dos Correios): O problema é como que a gente faz para perceber que aquele material está ficando "boboca"... Mas indo para a questão central, que é "educação sem distância", acho que tudo consiste, dentre várias outras  extensões, em você ouvir o seu ouvinte, em você se aproximar e participar com o ouvinte, seja antes do processo, quando você ainda está desenvolvendo, elaborando, como durante também. Se você cria uma situação que não é atrativa, ou que não agrada, não estimula ou não motiva o aluno, ele lhe dá a resposta na hora. Você vê pela fisionomia dele que aquilo não agradou, não atingiu o objetivo. Então acho importante essa questão de ouvir, de participar. (Se dirigindo para Denise) E isso passa pela questão das ferramentas. Se você tem uma variedade e disponibilidade de ferramentas, o problema não é a escolha, o problema é saber qual a ferramenta que você precisa conhecer mesmo... 


Denise:  deve-se definir a metodologia e então se usar as ferramentas para atender àquela metodologia.... 


Pergunta 6:  Jovens e a aprendizagem sem distância: um estado permanente de flow?


Mariana: Sim, um estado permanente de flow, mas favorecido pelas instituições, sejam públicas ou privadas. Como no caso em que estou me referindo aqui, da Escola do Futuro, favorecemos essa imersão  com a criação de comunidades. Um dos exemplos que eu posso citar é esse projeto Acessa São Paulo, em que ações da própria comunidade que acontecem em salas da internet se revertem em ações educacionais.


Paula Carolei: Não dá para se ficar imerso, mergulhado, o tempo todo. Em algum momento a gente precisa subir à superfície para respirar. Porque a gente precisa entender "o dentro", "o fora"... em um movimento constante. Então, assim, não dá para ficar em permanente flow. O afastamento é super necessário no contexto educacional. A gente tem que entrar na brincaderira mas tem o momento em que a gente tem que sair e refletir.
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Restava pouco tempo, mas ainda conseguimos ter mais algumas participações da platéia.


Claudia S A de Oliveira (Mestrado, UFPE): Quando a Profa. Vani coloca a questão do "criar", imediatamente me vem outra: a de "como criar". Nesse momento, quando você tem a questão da construção compartilhada, aí sim você tem a aproximação.
 



Francisco
(UFRJ): Acho que a questão é complexa, porque quando se coloca em jogo "distância", "espaço", está vinculado completamente ao tempo, até fisicamente não é? Encurtar distâncias, reduzir espaços, significa também encurtar tempos. Duas variáveis tão ligadas, tão unidas, que uma não existiria sem a outra. E aí você afeta a velocidade, já que a relação entre as duas resulta na velocidade. E se você quer encurtar espaço encurtando tempo provavelmente você quer aumentar velocidade e acelerar o processo. Fazer com que alguém aprenda, isso é meio complicado. Se você pegar o conhecimento científico por exemplo, você vai ver quantos milênios  se demorou para chegar aos atuais paradigmas da ciência. Aí eu pergunto: aprender em um tempo menor é lícito? E em que condições?



Romero: Francisco. Você, como pudemos ver hoje, traz sempre perguntas muito bem colocadas e instigantes. Mas, seguindo sua analogia física na questão "espaço-tempo-velocidade" eu contra-argumentaria da seguinte forma: se eu reduzo as distâncias eu posso andar mais devagar para atingir o mesmo lugar. É uma outra forma de ver a questão, certo?
Francisco: Me permite uma réplica?
Romero: Não está previsto nas regras do debate (risos). Mas você poderá fazê-la no blog.


Ritze Ferraz (professora e gestora de EAD do TRE-MG): Estou pensando nessa coisa do aprendizado. Eu quero que o aluno aprenda, eu quero chegar lá, não é assim?  Ele precisa, de alguma forma, criar. Então esses ambientes imersivos tem que proporcionar criações. Tem que ter laboratórios para que ele desenvolva projetos. Outra coisa importante: antes disso tudo o pensamento crítico, a competência argumentativa,  o portfólio etc, para que ele possa chegar lá, não é ? Eu fico pensando, como que vai ser para nós conduzirmos essa sensação do pertencimento nesses ambientes ? Como vai ser isso? Como a gente vai proporcionar de alguma forma que o aprendizado venha, que ele (o aluno) construa nesses ambientes imersivos ? 


Vani: Não é a tecnologia. É a pedagogia. A velha e boa pedagogia é que vai dar conta. Está na proposta pedagógica do curso, no planejamento didático, no design instrucional, na construção esclarecida de que nós realmente queremos.  E que aquele aluno tenha clareza de qual é o caminho. Porque muitas vezes o aluno entra num labirinto... mas no escuro. Aí ele vê joguinho de um lado, vê outra coisa de outro... mas o que isso aí tem a ver com o que eu tenho de aprender de física quântica? Então é preciso ter clareza de objetivo; e ter um acordo tácito entre aquilo que ele deseja e precisa aprender e aquilo que nós estamso oferecendo. Quando você tem clareza no caminho você sabe até aonde você vai. E aí a distância encurta.


Paula Carolei: Às vezes, uma boa história e uma boa contextualização é muito mais imersivo que um ambiente 3D.


Lina: Continuando o que a Paula falou, foi muito bem colcoado que um bom texto pode até ser melhor que uma realidade virtual, a qual muitas vezes é transportada de outras realidades. O fator novidade é improtante, mas a gente não pode ficar muito ávida com as novidades e deixar de lado todas essas coisas que são importantes. É também importante entender o contexto. Nem sempre a realidade virtual se enquadra. Às vezes a gente se encanta e quer usar de qualquer maneira, sem uma elaboração que leve a um resultado eficaz em termos de aprendizagem. Então todo esse cuidado deve ser tomado também em nível institucional. Porque é muito comum as instituições decidirem por adoção de determinada tecnologia, com altos investimentos, sem uma devida avaliação; e sem consultar pessoas que poderiam dar uma orientação. No final a tecnologia passa a ser culpada. A tecnologia deve servir à educação e não vice-versa. Entào, o equilíbrio e a maturidade nas decisões, em todos os níveis, é uma coisa muito importante, também para a redução de distâncias


Romero: Já começaram desligando o ar condicionado. O próximo passo será apagarem as luzes. (risos). Bem, já estouramos o tempo. (aplausos) Quero agradecer muito a todos os presentes e às debatedoras. Foi muito legal a a participação de todos. Agora, espero, o debate prosseguirá no blog. Fiquem ligados. Participem.  Em tempo: a participação de vocês da platéia foi tão boa que para o próximo ano pretendo chamar o pessoal do Guinness aqui para nos conceder o recorde  de maior mesa de debates em congresso científico. Isso porque farei uma proposta para a ABED de uma mesa na qual todos os presentes no auditório farão parte oficial de sua composição.(risos). 
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AGRADECIMENTOS


à jornalista e pesquisadora  Mariana Tavernarida Escola do Futuro / USP e às professoras Vani Kenski e Lina Romiszowiski, diretoras da ABED e, respectivamente, diretoras do Site Educacional e da TTS - Tecnologia, Treinamento e Desenvolvimento de Sistemas, por suas participações e importantes contribuições a esta mesa;


- ao amigo Álvaro Rodrigues, da UFRJ, pela reportagem fotográfica que realizou durante a mesa. Todas as fotos aqui publicadas  (e também no álbum do Facebook) foram clicadas por ele; 


- à ABED pela oportunidade que nos foi concedida de realizar esse encontro;


- e um agradecimento especial a todos os presentes: a presença, o envolvimento e a ativa participação de vocês fez toda a diferença. Obrigado. 


Relaciono a seguir uma parte desses "amigos sem distância", presentes fisicamente (e "transacionalmente") ao debate realizado  no dia 2 de setembro de 2010, das 18h às 19h, estendendo o agradecimento a todos os demais presentes, cujos nomes não constam na lista, e também àqueles que lá não estavam mas que eventualmente virão a participar virtualmente dessa discussão, que prossegue aqui neste blog. 



Ronan Maia; Marcia Frizzo; Maria Helena Carvalho; Cleonice Puggian; Celly Cristina Saba;  Maria Tereza N.Freitas;  Martha M.P. Linhares; Gilson B. Espindola;   Denise S D Bernini;  Alessandra Sales;   Fabiola Nicchio;  Gercira Saraiva;  Rosangela Miranda; Eldon Clayton; Larissa L S Arruda; Ivanete B Arruda; Simone Figueiredo Cruz; Thomas Colvara Teixeira; Edjare Queiroz da S Neto; Soraia Campos Santos; Ritze Ferraz; Rosangela Barz; Helio C.da Silva; Luisa Faria; Cristina Monaco; Isabel Botelho; Giovani Silveira; Fabricio Ribeiro; Ugna Martins; Rael Araujo; Gislene Pires; Anna Aline P S Souza;  Paula Carolei; Rosaria Ilgefritz Sperotto;  Rozane da Silveira Alves;   Marisa Medina;  Cristina Haguenaver; Luciana G R de Lima;  Fabiana C A Rodrigues; Eduardo Alves; Claudia Simone A de Oliveira; Gildo Neves B. Jr; Carmem Lucia p Oliveira; Fernando Valeriano Viana;  Elizete Baldo; Álvaro Rodrigues.


--fim do post--

Comentários

  1. Professor, sou Alessandra Sales,tutora presencial da Anhanguera educacional - polo Manaus. Esta experiencia foi unica...nos deu a sensação de inclusão em um mundo que ainda exclui a EAD.
    A discussão nessa mesa nos trouxe novos conceitos e a possibilidade de conhecer e admirar profissionais como vc.
    Abraços amazonenses a vc e a todos os colegas que estão juntos conosco nesta luta.

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  2. Obrigado Alessandra.
    A admiração é mútua.
    Parabéns por ter abraçado essa luta por uma "Educação sem Distância"
    PS: se puder/quiser marque-se nas fotos em que aparece.
    Abs.
    Romero.

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  3. Olá! Sou Luciana G R Lima.

    A questão direcionada a Mariana sobre o impacto das redes sociais na educação me deixou muito curiosa.


    Deve-se liberar Orkut, Msn, Twitter?
    O que vocês acham?

    Como direcionar isso na prática diária?

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  4. Acho que a questão vai além do dualismo liberar/não liberar. É necessário que tanto alunos quanto professores reflitam sobre as consequências dessa prática no ambiente escolar, tanto no âmbito da aprendizagem quanto da privacidade. E, usando a fala final da Vani: tudo vai depender também pro projeto pedagógico da escola, como ela pretende incorporar/se apropriar das redes sociais no cotidiano dos alunos!

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  5. Colegas,

    Foi uma mesa muito rica!

    O aprender no virtual é diferente? Rquer novos métodos? A nossa inteligência pode ser potencializada com a utilização dos recursos midiáticos como estratégias de aprendizado?

    Aguardo vocês, meus mestres.

    Abraços virtuais apertados, Ritze

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  6. Olá, Mariana!

    Eu acho muito importante discutir essa questão da prática, pois no período passado, tive uma experiência com duas turmas do curso de Jornalismo.

    Orkut Msn e Twitter eram bloqueados nas minhas aulas.Como a minha disciplina é Novas Tecnologias para Comunicação, havia uma incoerência...

    Alguém já teve algum tipo de experiência parecida?

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  7. Olá Ritze.
    A participação de voces enriqueceu muito o debate.
    Vou dar inicio as discussoes levantadas pro voce. Certamente havera outras contribuicoes.

    O aprender no virtual é diferente?
    Os meios são ferramentas que ajudam no processo de aprendizagem. CAda mídia possui características, limitações e facilidades que, na minha opinião, interferem na forma como se aprende. Não apenas o virtual é diferente, mas dependendo do que - e como se usa - no virtual o processo se modifica. Isso vale para o presencial também. Se eu uso o quadro e giz a aula fica diferente do que se eu usar powerpoint ou fizer uam aula pratica em laboratorio, por exemplo.

    Requer novos métodos?
    O método pedagógico pode ser o mesmo, mas a forma de aplicá-lo deverá levar em consideraçãoa mídia a ser utilizada.


    A nossa inteligência pode ser potencializada com a utilização dos recursos midiáticos como estratégias de aprendizado?

    Achoq ue a nossa inteligencia pode ser potencializada pelo uso adequado de estrategias pedagogicas.

    Abs

    Romero.

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  8. Queridos (as),
    Muito bom! Pensar no público-alvo, entender suas necessidades e ter um bom planejamento - do levantamento de requisitos até a avaliação -, entendendo que tecnologia é meio, não um fim em si mesma. Como bem disse a prof.ª Vani, é a boa e velha pedagogia que fará a diferença.
    Beijos,
    Ronaldo Souza

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  9. Oi Mestre Tori e pessoALL!

    Professor já consigo perceber o quanto boas estratégias potencializam as interações efetivas e as aprendizagens.
    Daí percebo a importãncia do acompanhamento docente, o que justifica algumas normas como a determinação de trabalhos colaborativos, envio de msgns, chats apenas no ambiente.

    Entretanto, ainda me parece uma ação 'controladora', que pode cercear e truncar o estabelecimento de vínculos, afinidades e coparticipação com sentido de pertença e interdependencia responsiva nos trabalhos q, num contexto assim, podem ser sub explorados e subdesenvolvidos devido a 'distância' entre as pessoas.
    Poderia comentar? Agradeço! []s

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  10. Olá Paula e demais leitores deste blog.

    As boas estratégias devem ser "catalizadoras", nunca "controladoras" nem "cerceadoras". Promover oportunidades de encontros e discussões virtuais ajudam a aproximar os participantes, reduzindo assim a distância transacional entre os mesmos. Mas smepre devemos dar liberdade para que interações e iniciativas diferentes daquelas planejadas venham a ocorrer.

    Por outro lado, deixar os estudantes totalmente livres não necessariamente leva aos melhores resultados, já que o ser humano possui uma tendencia ao acomodamento. Exemplifico com um fato ocorrido comigo. Certa vez, em uma disciplina de projeto determinei que as composições das equipes, diferentemente do que vinha ocorrendo em semestres anteriores, seriam estabelecidas por mim e não pelos próprios estudantes. Tomei o cuidado de não colocar nuam mesma equipe alunos que já tivessem trabalhado juntos anteriormente. Claro que muitos ficaram revoltados. Argumentei que quando se formassem e fossem contratados não teriam, pelo menos no início da carreira, a possibilidade de escolher com quem trabalhariam. Não foi fácil mas consegui convencê-los a enfrentar esse desafio. Ao final do semestre, os trabalhos apresentados ficaram em nível bem superior aos de semestres anteriores. E a avaliaçào que fizemso do processo com os alunos revelou que todos concordaram que a experiência foi muito enriquecedora. Alguns chegaram a agradecer pela oportunidade que tiveram de conhecer e trabalhar com colegas que se revelaram excepcionais (e que, não fosse a "imposição" feita pelo professor, mal se falariam até hoje).

    Abs

    Romero

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  11. Boa Noita,
    Estou iniciando uma Pós Graduação a Distância – Metodologia e Gestão em Educação a Distância
    e gostaria de esta comentando sobre esta modalidade de ensino.Tenho a plena certeza que esta modalidade de ensino ja esta dando certo.Pois acredito que é a educação do futuro, que claro já começou.

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  12. Olá,nossa adoro esse blog,só tem artigo bom,sempre que dá estou passando aqui,depois que meu amigo me recomendo nunca mais deixei de visitar,alguem sabe me falar se assim aqui é bom www.softwarecelularespiao.org ? abraços,assim que der eu volto pra comentar aqui no blog

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