Fotografando a aula expositiva



Inspirado por uma matéria da Folha de São Paulo, em seu caderno de Educação, decidi fazer a seguinte reflexão sobre aulas expositivas e o uso tradicional de lousa em salas de aula. Conto com você, professor e leitor, para ampliar essa discussão.

Tenho discutido há algum tempo sobre como a mídia (ou meio, ou ferramenta) utilizada pelo professor deve servir à metodologia pedagógica e aos objetivos da aprendizagem, que por sua vez devem considerar público-alvo, sua realidade e cultura. O que funcionava nas gerações passadas não necessariamente servirá para alunos do presente, e muito menos do futuro, pelo simples fato de que suas realidades são outras.

Percebe-se hoje o fenômeno de alunos fotografando lousas e até mesmo slides projetados (como na foto que ilustra este post). Com exceção de alguns alunos muito organizados em seus estudos, sabemos que essas fotos dificilmente serão consultadas por quem as capturou. Na hipótese de virem a ser consultadas provavelmente os estudantes terão dificuldades para interpretá-las, pois não foram re-codificadas para suas próprias formas de expressão, nem passaram por um processo de assimilação no momento em que aquelas anotações faziam algum sentido. 

Já foi comprovado que anotar de próprio punho é melhor para  aprendizagem. Mas como não seria pedagógico obrigar os alunos a copiar, ou a "esquecer" que possuem meios tecnológicos mais eficientes para "fazer download de lousas", precisam ser adotadas novas formas de aula, nas quais os alunos produzam ou façam "releituras" dos conhecimentos.

Antigamente copiar lousa e fazer anotações durante aulas expositivas era um ato natural e fazia todo sentido, mas a evolução tecnológica provocou mudanças comportamentais que tornaram as aulas tradicionais, baseadas em "passar conteúdo" via quadro-negro (ou branco ou datashow), ineficazes (e estranhas) para as novas gerações de alunos. Esse comportamento é mais um sinal de que o uso dessas mídias, incluindo os já onipresentes datashow e as tecnológicas "lousas interativas", precisa ser repensado à luz das novas tecnologias. Tais recursos devem cumprir uma função de apoio a discussões e orientações em vez de ser a principal forma de organização de conteúdos expositivos. Em atividades de aprendizagem ativa os alunos constróem seus conhecimentos, não os fotografam.


Comentários

  1. Acredito firmemente que temos dois motivos para a "copia" do quadro do professor, e dos pedidos de PPTs que vemos em salas de aula.

    no que diz respeito ao "quadro do professor" ... Sendo primeiro e originalmente, uma compendio de informações que historicamente apoiam uma forma de fixação, cadenciada dos alunos durante a explicação, ja o segundo, apenas servindo de muletas para o apresentador (professor) mais que sendo elementos de construção do conhecimento uma boia de salvação para o protagonista. Ha nessa frase anterior encontramos uma nítida inversão de objetivos, ANTES o aluno em foco, AGORA o apresentador em muletas.

    voltando a ideia principal, o primeiro motivo é a necessidade de arrumar um jeito de fixar aquilo que foi dito pelo "mestre"- demonstração de interesse no conhecimento. O segundo, uma necessidade de provar para si que esta fazendo todos os meios possíveis para aprender. Tanto um quanto outro, usam o que podem para alcançar o objetivo, ja o professor deveria pensar com mais maturidade qual o melhor meio de ensinar de forma moderna e eficaz..

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  2. Olá Romero, em minha dissertação de mestrado, em 2010, eu já havia feito esta observação. Meus alunos não anotavam mais. Penso que as tecnologias digitais são excelentes ferramentas no processo de ensino-aprendizagem, mas realmente, a maioria dos alunos ao tirar a foto, passam a responsabilidade do armazenamento da informação para o celular e o utilizam como extensão da mente. Como não fazem nenhuma anotação adicional que complemente o estudo provavelmente no momento de recuperá-lo o farão de forma deficiente.

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