da série Crônicas de Uma Vida Tecnológica
Por Romero Tori
Nunca liguei para assistentes virtuais. Ficar alardeando em voz alta o que estou procurando, pensando ou desejando não é algo que me faça falta. Mas a assistente de meu novo smartphone era insistente e inconveniente. Às vezes me interrompia no meio de uma aula, palestra ou conversa com um simpático, porém perturbador:
"Desculpe. Não entendi o seu pedido.”
Na hora eu pensava, será que eu falei "ok" (a palavra-chave para ativá-la) ou algo parecido? Era o suficiente para quebrar minha linha de raciocínio. Mas logo eu esquecia da assistente e prosseguia, até que dias ou semanas depois ela me lembrava de sua existência novamente.
Porém, hoje, ela me pegou num dia ruim. Fiquei muito irritado com sua interrupção. Num reflexo impulsivo, falei:
"OK ! Agora você me irritou! Como faço para desativá-la?"
Calma e educadamente, ela me responde de pronto:
"Para me desativar você deve abrir o painel 'não sei das quantas', ir para o 'menu tal', 'submenu XYZ', 'bla bla bla', e então clicar neste botão aqui".
"Assim, fácil?, respondi." (como se ela estivesse interessada em saber minha opinião, ainda mais numa frase não iniciada por "OK").
Imediatamente cliquei no botão que ela tinha me apresentado.
"Puf !". A assistente inconveniente sumiu.
Foi quando me deu um estalo:
“Peraí!”, exclamei.
"Até que ela era simpática e educada. E também muito esperta e prestativa. Entendeu rapidamente o que eu queria", pensei.
"Se foi tão desprendida e eficiente nesse meu primeiro e cruel pedido, imagino como não poderá me ajudar com um monte de coisas que me tomam um tempo enorme para encontrar e resolver. ", fui prosseguindo com minha reflexão.
"Acho que eu posso até mudar a palavra-chave para uma menos fácil de ser confundida com sons aleatórios emitidos durante minhas falas."
"Isso mesmo!"
"E se eu disser pra ela 'quero mudar a palavra-chave que ativa você', certamente ela me mostrará rapidamente como fazer isso.
"Caramba, como não me dei conta disso antes?”
“Ela poderá ser muito útil. Até me fazer companhia no meio de alguma atividade chata, como a de configurar o celular".
"É. "Fui precipitado e injusto".
Já bastante impactado pela situação e decidido a revertê-la, falo em voz alta, para quem quisesse ouvir, sem medo de ser feliz e preparado para um simpático"Desculpe. Não entendi o seu pedido":
"OK, você venceu!"
<Silêncio>
"OK!!! Como faço para reativá-la?"
<Silêncio>
“Opa, como sou idiota! Eu a desativei!!! Como posso querer que atenda meu pedido para se reativar?"
Pois é. Eu tinha o tempo todo alguém disposto a me ajudar e não me dava conta de quão útil e agradável ela poderia ser. Agora, precisarei passar por aquela tarefa chata de encontrar onde e como mudar as configurações para ativá-la. E tenho muita coisa pra fazer. Qualquer dia faço isso...
.
Moral: pense muito bem antes de dispensar alguém.
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Romero Tori é autor do livro “Educação sem Distância” e mantém este blog dedicado aos leitores e entusiastas da causa “vamos reduzir distâncias!”
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