Tablets nas escolas ?



A pergunta retórica do título pode ser interpretada de várias formas, dependendo das convicções de cada leitor. Ao enunciá-lo omiti um pronome, que logo revelaria a minha: QUANDO. Não tenho dúvida quanto a notebooks e salas de computadores estarem com os dias contados nas escolas. Laboratórios de computação, para atividades específicas, como engenharia de computação, computação gráfica, simulações e produção de mídia, entre outos, ainda serão necessários em cursos que trabalham com tais recursos. Mas como suporte digital de apoio pedagógico em geral o tablet é, no momento, imbatível. Sua bateria oferece autonomia suficiente para dispensar a necessidade de uma tomada em cada carteira. Sua portabilidade permite acompanhar o aluno em praticamente todos os lugares. Sua interface é suficientemente prática e amigável, sem limitações dos smartphones nem o estorvo de mouses e teclados. Sua conectividade, poder computacional e gama de aplicativos disponíveis, gratuitamente ou a baixo custo, atendem a quase todas as necessidades, a maior parte delas que os usuários nem mesmo imaginavam ter. Entregar um tablet a cada aluno, com a bibliografia básica na forma de e-books, pode sair mais barato que a aquisição de livros em papel, além de eliminar um grande peso na mochila do aluno.  Leitura em tela é problema apenas para os "estrangeiros digitais" (imigrantes digitais, como eu, já estão se adaptando à cultura para a qual decidiram, ou precisaram, migrar; já os nativos digitais terão dificuldades, ou desinteresse, para interagir com livros em papel, como o bebê do vídeo acima nos mostra).

Até este ponto ative-me apenas a questões técnicas para  justificar minha crença de que o tablet nas escolas é apenas questão de tempo (muito menor do que se imagina, arrisco dizer). Mas há certamente muitos benefícios pedagógicos que podem ser obtidos. Permitir que cada aluno tenha bibliotecas virtuais, redes colaborativas, material de apoio e sua própria produção (e dos colegas) na palma da mão, o tempo todo, é algo que até pouco tempo atrás seria inviável. Mas esse incrível potencial já pode, e deve, ser (bem) explorado pelas escolas.

A possibilidade de substituição do caderno pelo tablet, no entanto, é motivo de preocupação para muitos professores. Como manter a atenção do aluno ? Como evitar que fiquem trocando mensagens e piadinhas enquanto eu falo? Como coibir colas em provas ? Como controlar plágios e "cut&paste" ? Como competir com tantas coisas interessantes que os alunos poderão acessar durante minhas aulas ?   E se eles pesquisarem na Internet sobre aquilo que eu estiver falando e fizerem perguntas que não sei responder ? Ou, pior, me corrigirem durante a aula?

Se você tem alguns desses temores, não se preocupe, a solução é simples:  adapate-se à nova realidade de seus alunos em vez de tentar adaptá-los à sua. Comece equecendo as aulas expositivas (se quiser  mantê-las, grave suas aulas, coloque no Youtube e compartilhe nas redes sociais de seus alunos). Pronto, você não precisará  pedir para que os alunos desliguem seus tablets e prestem atenção no que você estiver falando. Como você não vai mais perder tempo tentando "expor" seus conteúdos, poderá desenvolver mais dinâmicas de grupo,  discussões, esclarecer dúvidas, dar atenção personalizada e acompanhar os alunos enquanto desenvolvem atividades de aprendizagem. Se em vez de provas "conteudistas", que medem a capacidade de memorização e repetição, além de impedir a troca de informação entre pares, os alunos forem avaliados de forma contínua, enquanto desenvolvem trabalhos colaborativos, significativos e desafiadores, supervisionados e acompanhados por você, "cola" e "plágio" deixam de ser motivo de preocupação. Pelo contrário, se os alunos não aprenderem a trocar informações, a incorporar e aprimorar trabalhos de terceiros, terão dificuldades em suas vidas profissionais, já que conceitos como  conteúdos abertos, produção coletiva,  "software livre" e até mesmo "hardware livre" são hoje muito valorizados. E se o aluno perguntar algo que você não souber responder será uma ótima oportunidade para aprender junto com ele. Em vez de "entregar o peixe" você o estará ajudando a "aprender a pescar". Afinal qual o seu objetivo como professor ? Ensinar ou criar condições para que seus alunos aprendam?

Não sou apenas eu a acreditar no potencial do tablet (e seus milhares de aplicativos) na escola. A mais recente edição (2012) da Horizon Report (respeitada publicação que apresenta as tendências das tecnologias na educação e que já foi tema de outro post neste blog) destaca os aplicativos móveis e os tablets como as tecnologias que devem ser adotadas em curtíssimo prazo.

Então o que está esperando ? Uma boa forma de ir se preparando para essa nova realidade é começar a usar essa tabuleta mágica. Não precisa começar com um iPad ou Galaxy. Há opções de menor custo no mercado (não tão boas, é verdade). Eu já fui mordido... Após alguns minutos de uso do primeiro iPad a que tive acesso já não sabia como tinha conseguido viver tanto tempo sem ele..  estou me preparando para enfrentar a fila à zero hora do dia em que se iniciarem as vendas do iPAd 3 ;-)

Bem, já que iniciei este post com um video vou fechá-lo com outro. Neste é mostrado de forma bem humorada que não basta a tecnologia para melhorar a educação.

Gostaria de saber sua opinião sobre tudo isso. Entre em nosso Grupo no Facebook e coloque-a lá (e/ou aqui mesmo).






Comentários

  1. Prezado Romero Tori, é verdade as novas tecnologias chegaram e estão aí para mudar a educação. Porém, uma das coisas que certamente elas potencializam, e muito bem, é a desterritorialização da sala de aula e por tanto da escola. Se crianças tem acesso a informação via internet, também o tem a comunicação, a transmissão de informação...então para que estar no mesmo lugar? Para que estar confinados na sala de aula e na escola se poderiam estar transmitindo experiências desde qualquer lugar, conversando e trocando idéias a qualquer hora? O tempo da escola como território obrigatório, acabou, o tempo da presença física acabou. Estamos no advento do mundo escola!!! É daí que tem que ser pensado o novo processo de educação.

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    1. Caros Edilberto e Tatiana.
      Certamente a Escola tem um grande desafio pela frente. O "confinamento" em sala de aula tende a acbar, mas não a Escola. Encontros presenciais não são condição necessária para o aprendizado (caso contrário a EAD seria inviável), mas se bem aproveitado pode ajudar muito (bons cursos de EAD preveem o encontro de alunos e professores pelo menso uma vez). O caminho deve ser o Blended Learning.

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    2. Concordo em parte. Ainda acho que a comunicação presencial entre pessoas é muito rica. O compartilhamento de espaço e a convivência com outros também é algo importante a se aprender.

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    3. Certamente a comunicação presencial é muito rica. E sempre que puder deve ser (bem) usada pela Escola. Mas será que está sendo bem usada no ensino tradicional ? Ter alunos em sala apenas de corpo presente, desmotivados não contribui para o aprendizado. Mas se os momentso presenciais tirarem proveito do potencial da interatividade tudo fica diferente. No Blended Learning espera-se que seja utilizado o que há de melhor no presencial e no virtual.

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    4. Mas sem formação e valorização do professor, não creio muito nas novas tecnologias.

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    5. Sem valorização do professor não dá para acreditar em muita coisa mesmo. Mas pelo menos no ensino superior os professores (ainda) são relativamente valorizados e bem formados. E a tecnologia pode (e deve) ajudá-los muito. No fundamental e médio a coisa é mais complicada. Mas uma coisa não exclui outra.

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    6. Uma idéia liberar geral o tablet com uso de camera, vídeo e aplicativos educacionais e jogos. O ambiente entre o professor e o aprendente onde os pares formarão um rede de idéias e valores de conhecimentos e seus limites de aplicações. Não concordo em gastar milhões de reais para capacitar professores no assunto já existem grupos educacionais com pacotes completos de pós graduação e assessoramento na nova onda de tecnologia, oferecem o curso, capacitam, dão "grátis" o aparelho, aplicativos, pacotes e assessoram os profissionais da educação básica.

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  2. Concordo em genero, numero e ordem, mas tem a variavel escola e a variavel sistema/politica educacional e a variavel estupidez humana q devem ser expurgadas da equação.

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    1. Olá Breno.
      Na minha opinião uma (boa) politica educacional é benéfica e não devria ser eliminada do processo. Já a "estupidez humana" deve levar alguns milhares de ano até a seleção natural a extinguir (ou não...).
      Abs
      Romero.

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  3. Caro mestre Romero Tori,

    O Tablet deve vir acompanhado de boas estratégias pedagógicas universais e flexíveis, adaptáveis às necessidades locais. Já estive mordido pelo consumismo no começo.Hoje, fico aguardando mais pesquisas da academia para validar seu uso ou apontar as limitações. Sou sim, otimista as tecnologias Educacionais, porém sempre cauteloso. Bom post professor.

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    1. Obrigado Francisco.
      As boas estratégias pedagógicas independem da mídia utilizada. Achemos bom ou não os dispositivos móveis estão se incorporando à cultura de nossa sociedade e em breve receberemos alunos que acharão tão normal usar tablets e redes sociais quanto usar a energia elétrica. Se as pesquisas apontarem que tais tecnologias não são apropriadas o trabalho será muito maior porque será necessário mudar não apenas as escolas mas toda a sociedade.

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    2. Verdade professor. Até um bom livro, de papel, sem uma boa estratégia não ajuda em nada. Deixamos o conteúdo para o alunos pesquisarem e nos preocupamos em faze-los inquietos na sala. abs

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  4. Caro Professor

    São muito interessantes suas reflexões, e realmente tendo um tablet, sou levado a acreditar que em relação a tecnologia, não deve existir nada melhor.
    Lembro que a tecnologia existente para aprendizado, tem centenas de anos e os métodos empregados foram sendo ajustados a muito tempo.
    Outro ponto que julgo importante é que além do conhecimento, outros valores devem ser passados para os alunos: a ética, o relacionamento pessoal e o posicionamento do aluno no grupo.
    O professor também deve ser valorizado, e sua postura também.
    Como unir o tablet com estes valores é que me preocupa.
    Saudações professor.

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    1. Olá Remo.
      Acho que precisamso separar métodos e modelos pedagógicos das mídias e tecnologias. Tudo o que foi desenvolvido peolos educadores ao longo de séculso não precisa ser jogado fora apenas porque agora alunos e professores dispõem de meios de comunicação e interação antes inexistentes. Claro que adaptações sempre serão necessárias. Mas a essência dos valores educacionais deve ser preservada. O que os tablets em sala de aula provocarão será deixar expostos os métodos pedagógicos ruins, que sempre foram ruins, mas que antes se escondiam em salas de aula onde alunos eram confinados e obrigados a fingir que aprendiam. Os bosn professores e a bao metodologia pedagógica se adaptará facilmente e saberá aprobveitar os pontos fortes, e contornar os fracos, dessa poderosa forma de comunicação e interação.

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  5. oi Romero

    Estou vivendo isso na pele no Senac. Semestre passado deu um curso de CG/OpenGL expositivo no Senac e por mais que eu me esforçasse, parecia que aquele era o assunto mais monótono do mundo.

    Agora reformulei o curso para que os alunos desenvolvam programas e me consultem para dúvidas, não fico mais "expondo" o conteúdo. A satisfação geral aumentou bastante.

    ótimo post

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    1. Valeu Fabio! Obrigado por compartilhar sua experiência. Grande abraço. Romero.

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  6. As tecnologias estão presentes, mas a escola parece sempre chegar atrasada. O filme final mostra definitivamente o problema: a formação do professor para o uso das chamadas "novas tecnologias" não tem contribuído para que a metodologia acompanhe o avanço tecnológico. As formações do projeto UCA (MEC) tentam trabalhar com projetos de trabalho e não exploração de conteúdos, mas nem sempre é aceito ou incorporado as práticas. Enfim a formação do professor deve começar a mudar já na sua graduação, onde hoje, ainda há universidades em que as tecnologias educacionais nem aparecem na matriz curricular. E depois querem que este professor vá para a sala de aula e aplique o que ele não viu, não sentiu, não explorou e tentam recuperar com cursos de formação contínua de 12h onde ensinam os recursos da tecnologia e não reflexões de práticas com a tecnologia.

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  7. Talvez o caminho "paternalista" não seja o melhor. Se o professor for valorizado e bem remunerado tratará de se atualizar por conta própria, como acontece em outras profissões (e no ensino superior).

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  8. Gostei bastante de seu artigo e estou gostando também de interagir com meu tablet. Sempre me preocupou esssas propagandas do governo de disponibilização de PC nas escolas públicas, pois nada se fala de mudança da metodologia de ensino utilizando esta ferramenta.

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    1. Obrigado Gilberto!
      Compartilho de suas preocupacoes.
      Grande abraco.
      Romero.

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  9. silvana monteiro
    Hoje os brasileiros em específico,escreve mal.Imagine usando computador como rotineiro que corrige sua ortografia.Quando forem prestarem concursos públicos é exigido a grafia e aí?A minha opinião é que deve haver a tecnologia,mas temos outras maneiras de usa-lá enriquecendo as aulas sem ser a única.É complicado alfabetizar uma criança pelo computador.

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    1. Ola Silvana

      A tendencia deve ser de cada vez os concursos p[ublicos exigirem mais aptidões em informática do que em ortografia (até porque essa pode ser corrigida pelo computador).

      Obrigado por sua contribuição ao debate.

      Grande abraco.
      Romero.

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  10. Anunciado novo iPad http://migre.me/8cEH0

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  11. Olá Romero, primeiro quero parabenizá-lo pelo blog, está excelente.
    Penso que estamos atravessando uma fase de transição, onde professores imigrantes digitais ainda resistem ao uso de novas tecnologias, resistem não por aversão, mas porque não condiz com aquilo que aprenderam e ensinaram a vida toda. A mudança de metodologia com certeza acontecerá de forma gradativa, quando professores formados para uma educação digital estiverem atuando com a mesma experiência que os tradicionais atual hoje, com domínio e excelência (mas que não cabe mais nos dias de hoje).

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    1. Obrigado Creusa, por sua participação e comentários. Só precisamos tomar cuidado para que mudem as tecnologias mas permaneçam metodologias ultrapassadas (como no video da tabuada..).
      Grande abraço.

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  12. Acho que o uso de caneta com o tablet facilita mais a adesão do conceito de tablets nas escolas. Segue um artigo interessante de mais 9 usos de tablets nas escolas.

    http://www.rogetechbrasil.com.br/blog/bid/118106/9-Ideias-para-usar-Tablets-nas-Escolas

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  13. Obrigado pela contribuição Al. Abs Romero

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  14. Prezado Romero Tori, boa tarde!

    Por gentileza enviar seu contato/telefone para convidá-lo a participar do Congresso Internacional de Educação no Recife.
    Segue nosso contato:
    E-mail: arnaldocmendonca@gmail.com
    Fone: (81)9114-1964

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